BIOGRAFIA

Texto por Suely Grisanti



O apuro técnico é um denominador comum na obra de Alex Cerveny. Ele não se prende a uma única técnica ou material: desenhos, esculturas, pinturas, bordados, colagens, cerâmicas, fotografias e gravuras, estão presentes em sua obra.
Como tema, utiliza-se de referências históricas, “algumas delas biográficas, como as figuras retorcidas e elásticas – lembranças de sua vivência de artista circense; outras literárias, e outras, ainda, dos meios de comunicação em massa, criando uma intrigada alegoria” (Bienal Naïfs, 2010).


Valoriza o processo de trabalho e o diálogo entre suas obras. Como resumiu o artista, “Eu me sinto mais um escritor que escreve imagens, me sinto mais um cronista que um artista. A tradição que me agrada na arte é essa de contar histórias, como retábulos, como os muros assírios que contam histórias de batalhas...”


Alexandro Júlio de Oliveira Cerveny nasceu em São Paulo em 1963. Seus pais, um arquiteto e uma professora especializada em ensino para cegos, foram os primeiros responsáveis por seu interesse pelas artes. O pai, apresentando e fornecendo a ele os vários materiais disponíveis para se expressar através do desenho e a mãe lhe ensinando que as pessoas poderiam ter diferentes formas de olhar e observar o mundo ao seu redor – as distintas formas de visão.
Iniciou seus estudos em uma escola de método experimental (Grupo Escolar e Ginásio Experimental Dr. Edmundo de Carvalho), na Lapa, que se destacava no meio pedagógico, graças à atuação de educadores e pesquisadores como Terezinha Fran, Diva F. Sgueglia, Ana Maria Popovic entre outros. A escola desde cedo lhe proporcionou uma abertura para novas ideias e para as artes.

FORMAÇÃO ARTÍSTICA

Nos anos 1970, conheceu Valdir Sarubbi, na ocasião seu professor de teatro no grupo Experimental. Como educador, Sarubbi incentivava seus alunos a desfrutarem da biblioteca e da discoteca que mantinha em seu ateliê, para desenvolverem o gosto pela literatura e música.
Com ele aprendeu que a arte – o desenho, a escultura, o teatro – deve expressar a percepção interior de cada um. Dizia ele que “o importante não é o engajamento do artista dentro da tendência ou movimentos específicos, mas uma visão aberta de quem olha a obra de arte para apreciá-la naquilo que ela apresenta de sensível, seja sobre que forma for” (BITTAR, 2002). Essa ideia foi marcante para a formação de Alex Cerveny.
Aos 14 anos, conseguiu um emprego temporário no estúdio-fábrica do artista Nelson Leirner. Apesar do curto período ali passado, este foi seu primeiro contato com a arte contemporânea.
Outro aprendizado importante, que mais tarde veio a influenciar a temática de suas obras, foi sua aproximação do circo. Foi aluno da Academia Piolim de Artes Circenses e do Circo Escola Picadeiro. Lá desenvolveu um personagem, Elvis Elástico, o homem de plástico, fazendo apresentações de contorcionismo acrobático.
Nos anos 1980, Sarubbi observou o interesse que as gravuras de Saint-Clair Cemin, Ubirajara Ribeiro, Evandro Carlos Jardim, entre outros, despertavam em seu aluno, e já assistente. Por sua orientação, Alex Cerveny passou então a frequentar a oficina de gravura de Selma Daffré. Lá, além de trabalhar como aprendiz, foi impressor e, mais, tarde, deu aulas de gravura. Desde então mesclou suas atividades artísticas ao ensino do desenho, pintura e técnicas de gravura.

ATIVIDADES ARTÍSTICAS

A partir dos anos 1980, desenho e gravura foram uma constante em suas atividades. Em 1983, Sarubbi levou Alex Cerveny a fazer sua primeira exposição individual na Elf Galeria de Arte, de Gileno Müller Chaves em Belém do Pará. Em 1987, a Galeria Unidade Dois, de Julio Louzada, em São Paulo, preparou sua outra mostra individual – Desenhos. Essa mostra priorizou a busca introspectiva de Alex Cerveny. Uma obra intimista, rica em mitologias próprias, uma reação ao gigantismo das obras que, a partir das Bienais de 1983 e 1985, e nas palavras do próprio artista, “apostaram nos grandes formatos e na dissolução de identidades” (REZENDE, 2012)
Em 1988, começou a trabalhar com o galerista Paulo Figueiredo, parceria que resultou nas mostras individuais de 1988, 1990 e 1993.
Convidado a participar da 21ª Bienal de São Paulo, em 1991, ganhou o Prêmio Secretaria da Cultura, concedido pelo estado de São Paulo. No mesmo ano, foi organizada na Liljevalchs Kunsthall, em Estocolmo, a exposição “Viva Brasil Viva” sua primeira mostra internacional. Surgiu ali o contato com a galerista Ruta Correa, de Freiburg, Alemanha.
Ainda na década de 1990, através de Ruta Correa e Joel Edelstein, foi convidado para participar de feiras de arte contemporânea em Chicago, Frankfurt, Madri, Paris e Miami e várias exposições individuais como na Galerie 20x2 em Arnhem, na Holanda, Ledis Flam Gallery, em Nova York, além da exposição Ouvres sur papier, no espaço cultural da Embaixada Brasileira em Paris.
Em 1987, 1990 e 1995, participou da exposição Panorama da Arte Brasileira, organizada pelo MAM de São Paulo, ganhando, na edição de 1995, o Prêmio de Aquisição Price Waterhouse do Brasil com a obra Excelsior.
Em 1993, foi convidado a participar de um workshop no Tamarind Institute, uma divisão da Universidade do Novo México, em Albuquerque, EUA. Nesse centro, que oferece programas educacionais e estúdio para artistas profissionais, pôde aperfeiçoar seu trabalho litográfico e suas técnicas de impressão. Retornou ao Tamarind Institute em 2012, desta vez como convidado para executar novas gravuras, que foram incluídas no acervo da instituição.
Entre 1996 a 1999 trabalhou e expôs na Valu Oria Galeria de Arte.
Em 2001, passou a ser representado pela Galeria Casa Triângulo de Ricardo Trevisan.
Em 2005, surgiu o convite para participar de um projeto multidisciplinar junto ao departamento de Geociências da Universidade de Dresden. Liderados pelo Dr. Bernd Teichert, faziam parte do chamado Nasca Projekt, membros da Associação Maria Reiche e, entre outros, o artista plástico alemão Christoph Rust. Foram três expedições à província peruana de Ica, ao sul de Lima, para de lá partirem para conhecer e explorar esses geóglifos criados entre 200 a. C. a 800 d. C. pelas culturas Paracas e Nasca e que perduram até hoje. O produto dessas viagens deu origem ao projeto Correspondências Nasca, entre os dois artistas plásticos e resultou em várias exposições. Entre elas, uma em São Paulo, organizada pela Galeria Marta Traba, no Memorial da América Latina em agosto de 2008 e outra no Roemer und Pelizaeus Museum, em Hildesheim, Alemanha, em 2009. Este museu mantém uma das maiores e mais notáveis coleções de arte peruana do mundo. Daí seu interesse em apresentar a visão de artistas contemporâneos sobre os traçados de Nasca.
Em 2010, Alex Cerveny participou da Bienal Naïfs no SESC de Piracicaba, São Paulo, sob curadoria de Maria Alice Milliet. A mostra foi organizada “em torno do diálogo entre artistas emergentes – participantes de edições anteriores da Bienal Naïfs – e artistas com carreiras consolidadas no restrito círculo de galerias e museus” (Bienal Naïfs, 2010, p. 14). Uma sala especial foi montada para a apresentação dos trabalhos desses artistas convidados, entre eles, Antonio Henrique Amaral, Vânia Mignone e José Bezerra.
Em setembro desse mesmo ano, Alex Cerveny expôs quarenta desenhos – Psico Gráficos - realizados em Viena na mostra Paralela 2010. A obra foi adquirida pelo Sesc e está em exposição permanente em sua unidade de Santo Amaro.
Participou ainda da Trienal de San Juan, em Porto Rico, em 2012, apresentando os desenhos da Correspondência Nasca que, desta vez, foram transformados em bordados feitos à mão. Esses desenhos-bordados são uma homenagem ao legado têxtil das culturas Paracas e Nasca e tiveram a colaboração das bordadeiras Maria Elita Alves Borges e Ana Claudia Bento dos Santos advindas do grupo de mães formadas pela ACTC.
Ainda em 2012, foi convidado pela Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, para produzir, no ateliê do artista gaúcho, uma gravura que agora faz parte do acervo da instituição. No mesmo ano, foi um dos artistas presentes na mostra comemorativa Gravura brasileira no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo: 100 anos de história, na Estação Pinacoteca, São Paulo.

ILUSTRADOR

Seu trabalho como ilustrador é extenso. Manteve uma parceria de muitos anos com a jornalista Barbara Gancia, ilustrando sua coluna no jornal Folha de S. Paulo.
Em livro, fez as ilustrações para Vejam como sei escrever, de José Paulo Paes, publicado pela editora Ática em 2001 e Pindorama, de Sandra Peres e Luiz Tatit, publicado pela Cosac Naify em 2003.
Para o livro As aventuras de Pinóquio de Carlo Collodi, publicado pela Cosac Naify em 2012, Alex Cerveny pesquisou e recuperou uma técnica de gravura do século XIX – contemporânea ao livro de Collodi – o cliché verre (clichê em vidro). Por essa técnica, se chamusca uma placa de vidro com uma vela e desenha-se sobre essa superfície com uma ponta. Na etapa seguinte o vidro faz a função de negativo, permitindo a impressão do desenho num papel fotográfico.
Seus desenhos como ilustrador apareceram reunidos em 2005 na mostra Desenhos de Ilustrações na Estação Pinacoteca, em São Paulo.

O ARTE-EDUCADOR

O começo de seu envolvimento com a educação se deu no ateliê de Sarubbi e de Selma Daffré, quando ministrou aulas de desenho e gravura. Desde esse período, sempre esteve envolvido em programas educacionais.
Em 1984, Alex Cerveny ensinou gravura em metal no Paço das Artes, em São Paulo. Nos anos seguintes, coordenou o ateliê de gravura do MAM de São Paulo, dando aulas também nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade.
Com uma parceria entre a Companhia Vale do Rio Doce, o Cedac (Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária), e secretarias de educação de vários estados brasileiros, participou do programa Escola que Vale, oferecendo por oito anos, oficinas de arte para crianças e para profissionais de educação da rede pública no Pará, Maranhão, Minas Gerais e Espírito Santo.
Seu trabalho como arte-educador se estende por várias instituições, como o Instituto Tomie Ohtake, a ACTC (Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos Transplantados do Coração), o Colégio Logos, o Senac e a Escola São Paulo.



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REFERÊNCIAS

ARAUJO, Olivio Tavares. Alex Cerveny. Galeria Revista de Arte: São Paulo, 1987. Nº5, p.43-44.
ARTE E ARTISTAS PLÁSTICOS NO BRASIL 2000. São Paulo: Meta, 2000
ARTE E GRAVURA HOJE. São Paulo: Paço das Artes, 1990.
BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Catálogo; Nelson Aguilar, org. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994.
BIENAL NAIFS DO BRASIL 2010. Piracicaba: Sesc São Paulo, 2010.
BITTAR, Rosana. Sarubbi. Belém: Estacon, 2002.
CERVENY, Alex. El Nasca volador – Flying Nasca. In: Nasca Symposium 2006. Dresden: Zentrum für interdisziplinäre Forschung der Universität Bielefeld, 2007. P.27-30.
CHIARELLI, Tadeu, org. Alegoria. São Paulo: MAM [2002] GANCIA, Barbara. Alex Cerveny para iniciantes. 2012, set. 09. www1.folha.uol.com.br
GEPPETTO DO SÉCULO XXI . www.youtube.com/watch?v=jgVXtyHoKD0
REZENDE, Renato. Entrevista com Alex Cerveny. 2012.
www.itaucultural.org.br - biografia e comentários sobre a obra de A. Cerveny com imagens.
www.escolaquevale.org.br - sobre o trabalho desenvolvido por essa instituição e a parceria com A. Cerveny.
www.youtube.com/watch?v=AohiOzN3fGw - entrevista com A. Cerveny e convidados sobre trabalho de Sarubbi.
www.memorial.sp.gov.br/memorial/RssNoticiaDetalhe.do?noticiald=1309 - sobre a exposição Correspondência Nasca.
www.rustart.de - site do artista alemão Cristoph Rust e sua visão sobre Nasca.

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